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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O gato e o filhinho de papai

Qual a diferença entre Heltton Matheus e Rodolpho Carlos?

Heltton virou manchete nos últimos dias (como Brendon), menino pobre, negro, favelado, um de estorvo para boa parte da nossa sociedade, por causa de seu sonho em jogar futebol, de sua dificuldade em conseguir uma chance num ambiente tão difícil e concorrido.

Rodolpho Carlos foi pouco badalado se comparado a Heltton (Brendon), filho de uma das maiores fortunas da Paraíba.

Ele atropelou e matou o trabalhador Diogo Nascimento, um agente de trânsito, provavelmente também tratado como estorvo para parte de nossa sociedade, principalmente por quem sabe ser imune a uma blitz, gente que vive no reino dos intocáveis e, sim, são intocáveis criminalmente.

Heltton para os dirigentes do Paulista de Jundiaí é um criminoso.

Para parte da mídia esportiva alguém a ser execrado.

Que o Paulista é um clube mal gerenciado e foi sim conivente indiretamente com a fraude, nenhuma palavra.

Não sou um dos únicos a fazer isso quando trabalho, mas normalmente, pesquiso o nome completo de um atleta no Google.

Se algum “professor” do Paulista tivesse feito o mesmo, veria no site “Jusbrasil” que existia um Brendon Matheus Araujo Lima dos Santos com um Processo Criminal 0031367-69.2016.8.19.0004 – 06/12/2016, (se você tiver curiosidade faça a pesquisa), e no mínimo teria se assustado com tamanha coincidência.

Mas ninguém fez isso, porque dá trabalho para alguns “professores”, normalmente alguém com pouca experiência, mas com um bom padrinho.
O futebol está assim.

Não é de hoje que nas funções de gerenciamento e supervisão existe improviso, existe a figura do curioso que acaba ocupando espaço, seja por ser filho de alguém, seja por ser mais barato ou mesmo por ser um ex-atleta que não conseguiu ser treinador.

Rodolpho Carlos para o desembargador da Paraíba, Joás de Brito Pereira Filho, não representa risco.

O desembargador acordou às 3h da madrugada para soltar Rodolpho, um “garotão de bens” que foi assessor parlamentar (provavelmente fantasma) do digníssimo senador Cássio Cunha Lima.

Que, ao fugir de uma blitz, atropelou, não socorreu e matou um cidadão.

No caso Heltton (Brendon) ainda vem a tona uma situação típica de nossa Justiça.

O Brendon verdadeiro cumpre prisão preventiva.

Rodolpho Carlos sequer passou na porta da delegacia após a juíza de primeira instância, corretamente, decretar sua prisão.

Brendon é acusado de tráfico e Rodolfo é um assassino que sabemos não será condenado.

Leio que Vampeta, “Grande Vampeta”, hoje presidente do Audax, num gesto digno de muitos aplausos, abriu as portas do clube para Heltton (esqueçam o Brendon).

Disse Vampeta: “Vou dar oportunidade de ele jogar lá em Osasco... Ele não roubou, não usou uma arma para matar alguém, só tem o sonho de ser jogador de futebol... Quem é de cor sabe, vão sacrificar esse menino e daqui a pouco ele não tem mais chance de jogar em lugar nenhum.”

Heltton deve sim responder pela falsidade ideológica, deve sim pagar pelo erro, mas, como quem vive no futebol há quase 30 anos, sei que dificilmente ele teve essa brilhante ideia sozinho.

Vi muitos casos como este quando trabalhei nas divisões de base do Botafogo.

Normalmente existe alguém por trás e o presidente do Paulista deveria demitir TODO seu departamento de futebol.

Já Rodolpho Carlos deveria estar preso aguardando julgamento como esta o Brendon verdadeiro, que por sinal não matou ninguém.

Só que no Brasil as coisas não funcionam desta forma.

As imagens mostram porque um é “criminoso” e o outro é “garotão de bem”.

O negro é Hellton, o branco é Rodolpho. Assim mesmo, com ph.


Tomado do Blog do Juca Kfouri


Por Marcos Mesquita, que foi supervisor do América e Botafogo cariocas, além do Villa Nova, de Minas.

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