Que a atividade física reduz o risco de
ataques cardíacos todos sabem, mas que protege contra o câncer…
Por razões pouco conhecidas, obesidade e vida
sedentária aumentam a incidência de certos tipos de câncer. Combinados, os dois
fatores são responsáveis por 20% dos casos de câncer de mama, 50% dos
carcinomas de endométrio (camada que reveste a parte interna do útero), 25% dos
tumores malignos do cólon e 37% dos adenocarcinomas de esôfago, enfermidade
cujo número de casos aumenta exponencialmente.
Nos últimos 15 anos, foram publicados vários estudos
demonstrando que, independentemente da massa corpórea, mulheres e homens ativos
fisicamente apresentam risco mais baixo de desenvolver alguns dos tipos mais
prevalentes de câncer da espécie humana: câncer de mama, de próstata e de
cólon.
Para dar ideia do grau de proteção conferido, uma
análise conjunta de 19 pesquisas publicadas (metanálise) sobre a relação entre
atividade física e o aparecimento de câncer de cólon mostrou que mulheres
ativas apresentam risco de desenvolver a doença 29% menor do que as
sedentárias. E que, entre os homens ativos, o risco é 22% mais baixo.
Em 2005, um trabalho publicado na revista “JAMA”
levantou uma nova questão sobre esse tema: será que a adoção da prática de
exercícios físicos depois do diagnóstico de câncer aumentaria os índices de
cura?
Nele, foram estudadas 2.987 mulheres operadas de
câncer de mama. Depois da cirurgia e dos tratamentos complementares (de
radioterapia e quimioterapia), aquelas que passaram a caminhar por pelo menos
30 minutos, em média cinco vezes por semana, na velocidade de cinco a seis
quilômetros por hora – ou fizeram exercícios equivalentes -, apresentaram cerca
de 60% de redução do risco de recidiva da doença, menor mortalidade por câncer
de mama e menor probabilidade de morrer por outras causas.
Dois estudos recém-publicados reforçam a hipótese de
que a atividade física aumenta as chances de cura de quem teve câncer. No
primeiro, os autores selecionaram um grupo de 573 mulheres operadas de câncer
de cólon. A intensidade dos exercícios praticados por elas foi avaliada através
de questionários periódicos, que abrangeram o período iniciado seis meses antes
da operação e encerrado quatro anos depois dela.
Comparando aquelas que permaneceram ou se tornaram
sedentárias depois da cirurgia com as que adotaram a prática de caminhadas de
pelo menos uma hora na velocidade de cinco a seis quilômetros por hora, quatro
a cinco vezes por semana – ou exercícios equivalentes -, as ativas reduziram
pela metade suas chances de morrer de câncer.
No segundo, foram avaliados 832 portadores do mesmo
tipo de câncer, participantes de um estudo comparativo entre dois esquemas de
quimioterapia administrada depois da cirurgia. Os resultados foram semelhantes:
andar pelo menos cinco a seis quilômetros em uma hora, quatro a cinco vezes por
semana, reduziu a mortalidade por recidiva da doença entre 50% e 60%.
Os benefícios obtidos não foram influenciados pelo
sedentarismo antes do diagnóstico de câncer, idade, sexo, índices de massa
corpórea, tamanho do tumor, número de gânglios invadidos, ou pelo tipo de
quimioterapia recebido.
Não está claro por que os níveis de atividade física
para proteger contra recidivas de câncer de cólon precisam ser mais altos do
que os necessários para obter resultados semelhantes em câncer de mama.
Diversos mecanismos biológicos podem ser evocados para
explicar o efeito protetor do exercício na evolução de tumores malignos. Os
mais aceitos consideram que o trabalho muscular reduz os níveis sanguíneos de
insulina e de certos fatores de crescimento liberados pelo tecido adiposo,
capazes de estimular a multiplicação das células malignas.
Reduzir em 50% a probabilidade de morrer de câncer de
mama ou de intestino, pela adoção de um estilo de vida mais ativo, é um
resultado inacreditável: nenhum tipo de radioterapia ou de quimioterapia – por
mais agressiva que seja – demonstrou provocar esse impacto.
Do ponto de vista científico, embora a relação entre
atividade física e câncer não esteja definitivamente esclarecida, os dados
obtidos até aqui são tão contundentes que todas as pessoas operadas de câncer
de mama, intestino, próstata e, possivelmente, de outros tumores malignos devem
investir na prática regular de exercícios a mesma energia com que enfrentam
operações, radioterapia ou quimioterapia.
Por
Dráuzio Varella
Publicado
em 07/04/2011 - Revisado
em 01/07/2016.
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