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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Ação Social do Contestado recebe Declaração de Utilidade Pública Estadual, durante visita do Deputado Estadual Padre Pedro

Na última sexta-feira 01 de novembro, o Deputado Estadual Padre Pedro Baldissera, visitou a Ação Social do Contestado – ASC, na oportunidade ele entregou ao coordenador da entidade Padre Marcio Martins Rosa e demais integrante da coordenação a Lei Estadual, que Declarada a Ação Social do Contestado de Utilidade Pública Estadual.
Padre Pedro entrega Declaração de Utilidade Publica Estadual - Foto ASC
“Estamos muitos felizes com os trabalhos realizados e com este reconhecimento, estamos dando passos firmes para fortalecer e ampliar as ações da ASC, agradecemos a todos os parceiros, a Fundação Weiss Scarpa, a Paróquia Santo Antônio, o Poder Público do Município de Lebon Régis, aos Conselhos Municipais e a Diocese de Caçador”, comenta Padre Márcio.
Padre Pedro visita a Ação Social do Contestado - Foto ASC 
Ainda de acordo com o coordenador da ASC, também se faz necessário agradecer ao Padre Pedro e sua equipe de assessores/as, que se empenham para realizar, fortalecer e assessorar Ações Sociais em vários municípios do Estado, e também estender o agradecimento a toda a equipe administrativa, de educadores e educadoras e todos os/as estudantes que participam dos projetos, ações e atividades desenvolvidas pela Ação Social do Contestado.
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terça-feira, 5 de novembro de 2019

Uma história rica para uma região de pobres e miseráveis

Caboclada foram abandonada pelo estado brasileiro - Foto: Museu do Judiciário
A Guerra do Contestado, nos últimos anos, ganhou visibilidade na mídia e em pesquisas realizadas por diversas universidades estaduais e federais. A riqueza histórica contrasta com a pobreza e a miséria deixadas no rastro do massacre.
Confira abaixo os índices de pobreza oficial da região, que variam de 20% a 43% em mais de 90% dos municípios:
CIDADES
POPULAÇÃO TOTAL (Censo IBGE de 2010)
ÍNDICE DE POBREZA
Arroio Trinta
3.502
20,18%
Bela Vista do Toldo
6.004
22,49%
Caçador
70.762
36,25%
Calmon
3.387
43,47%
Canoinhas
52.765
32,22%
Fraiburgo
34.553
36,98%
Iomerê
2.739
11,04%
Irineópolis
10.448
26,29%
Itaiópolis
20.301
26,07%
Lebon Régis
11.838
38,70%
Macieira
1.826
19,99%
Mafra
52.912
29,56%
Major Vieira
7.479
27,20%
Matos Costa
2.839
33,25%
Monte Castelo
8.346
33,99%
Papanduva
17.928
31,66%
Pinheiro Preto
3.147
17,94%
Porto União
33.493
31,29%
Rio das Antas
6.143
19,94%
Salto Veloso
4.301
28,42%
Timbó Grande
7.167
41,56%
Três Barras
18.129
39,86%
Videira
47.188
30,77%

Nas cidades de origem cabocla, a situação é agravada. Veja a tabela a seguir:
CIDADE
POPULAÇÃO TOTAL
ÌNDICE DE POBRES
Caçador
70.762
36,25%
Calmon
3.387
43,47%
Fraiburgo
34.553
36,98%
Lebon Régis
11.838
38,70%
Matos Costa
2.839
33,25%
Monte Castelo
8.346
33,99%
Timbó Grande
7.167
41,56%
Três Barras
18.129
39,86%
As palavras do general Setembrino de Carvalho, comandante do Estado-maior das forças legalistas que agiram sobre o Povo Caboclo do Contestado, resumem o alcançar dos objetivos pelas tropas federais, ele mesmo testemunha o massacre e comunica ao Palácio do Catete que o último reduto dos fanáticos do Contestado foi varrido da face da terra – e os bandidos se dispersaram pelas matas. Esses, dispersos pelas matas, serão caçados e eliminados pelas milícias dos coronéis do Contestado nos anos seguintes. Mas essa perseguição segue até os dias atuais, por variados meios e ações.
Mais do que matar o Povo Caboclo, o Contestado agora tenta matar o Contestado enquanto região de identidade regional brasileira, isso a partir do preconceito de certos grupos dominantes. Nos últimos 103 anos desde o fim oficial da Guerra do Contestado, políticas públicas estaduais e federais são irrisórias para a região, tanto que o Contestado possui os mais baixos índices de desenvolvimento humano de Santa Catarina, ou mesmo do Brasil, pois o índice de pobreza nos municípios da região do Contestado varia entre 20 e 48% da população residente.
Mas, os baixos índices de qualidade de vida, atingem, principalmente, a População Cabocla, vivendo em melhores condições, os de ascendência europeia. Muitas famílias passam fome no Contestado, pois o flagelo da fome é parte da herança maldita sobre os descendentes da População Cabocla, que possuem os piores empregos, pois são a mão de obra barata regional, são os que possuem menos qualificação profissional e são os que habitam nos piores lugares das cidades, nos fundos de vales ou encostas, onde a terra não vale quase nada.
 O Contestado Caboclo segue clamando por justiça social, principalmente no que tange ao direito à terra que lhes foi usurpada, garantindo, desta forma, o direito à vida sobre suas terras ancestrais. É preciso parar com o genocídio caboclo iniciado em 1912.

*Matéria produzida com informações, pesquisas e estudos do Professor Nilson César Fraga, Professor Adjunto no Departamento de Geociências da Universidade Estadual do Londrina. 

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Organizações sociais lançam o Fórum Regional em Defesa da Civilização e Cultura Cabocla

Caboclada lança fórum regional em defesa de sua cultura - foto Claudia Weinman
No domingo 03 de novembro, durante o Cantos e Cordas no Contestado, que teve como palco o Auditório do Instituto Federal Catarinense – IFC Câmpus de Fraiburgo, mais de 150 integrantes de diversas organizações sociais da Região do Contestado, lançaram o Fórum Regional em Defesa da Civilização e Cultura Cabocla.
O Fórum tem por objetivo fazer o enfrentamento à decisão da Instância de Governança Regional (IGR) – espécie de “braço” turístico do Governo do Estado em cada região catarinense e congrega também gestores municipais do setor, que em 4 de julho desse ano, de costas para as entidades sociais e para as Caboclas e Caboclos, e de portas fechadas trocaram o nome Vale do Contestado para “Vale dos Imigrantes”. Para mais informações leia: Pesquisadores e comunidades questionam alteração de nome do“Vale do Contestado”.
Estudantes encenam Massacre do Taquaruçu - foto Claudia Weinman
Encenação da prisão e morte de Adeodato  - foto Claudia Weinman
À noite cultural em homenagem a memória, luta e legados dos Caboclos e Caboclas do Contestado, foi aberta com a apresentação da Peça Teatral: "Nas trincheiras da guerra, a fé é a arma!", escrita, dirigida e apresentada por estudantes e educadores da Escola de Educação Básica 30 de Outubro de Lebon Régis.
Em seguida subiram ao palco: os trovadores Pedro Munhoz (radicado no Piauí) e Pedro Pinheiro, os quais apresentaram canções sobre o Contestado, e sobre a resistência cabocla e sertaneja por todo o Brasil.
Pedro's agradecem o carinho e respeito do público - foto Claudia Weinman
O Cantos e Cordas no Contestado, contou com outra apresentação, realizada na sexta-feira 01 de novembro, durante seminário para celebrar os 30 anos da Escola Agrícola 25 de Maio. 
Entre outras organizações sociais, estiveram presentes ou contribuíram para o lançamento do Fórum Regional em Defesa da Civilização e Cultura Cabocla: Associação Hayashi-há Vital de Karatê-dô; Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC); Conselho de Entidades dos Bairros São Miguel e Nossa Senhora Aparecida; Conselho Pastoral da Comunidade São Miguel; Cooperativa dos Assentados da Região do Contestado (COOPERCONTESTADO); Escola de Educação Básica 25 de Maio; Escola de Educação Básica 30 de Outubro; Instituto Federal Catarinense – IFC Campus de Fraiburgo; Jornal Vitória; Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST); Paróquia Imaculada Conceição de Fraiburgo; Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP; Pastoral da Juventude Rural – PJR; Portal Desacato; Sindicato dos Trabalhadores/as no Comércio de Fraiburgo (SINTCOF); Sindicato dos Servidores/as Municipais de Fraiburgo (SINTSER); Sindicato dos Trabalhadores/as em Educação de Santa Catarina (SINTE); e Sindicatos dos Trabalhadores/as da Construção Civil e Madeira (SITCOM).
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Pesquisadores e comunidades questionam alteração de nome do “Vale do Contestado”

  A caboclada do Contestado resistirá outra vez 
Denúncia apresentada ao Ministério Público de Santa Catarina e entregue na Assembleia Legislativa aponta ausência de um debate com comunidades e especialistas.

            Nem o Monge João Maria, nem Chica Pelega, a heroína da cidade Santa de Taquaruçu. A região do Meio Oeste catarinense marcada pela Guerra do Contestado (1912-1916), um dos massacres mais sangrentos da América Latina, perdeu em julho sua referência histórica e não se chama mais “Vale do Contestado”. Agora, o espaço geográfico que abriga quase 300 mil pessoas e uma parte controversa da história brasileira chama-se “Vale dos Imigrantes”.
            A alteração aconteceu a portas fechadas, em 4 de julho desse ano, na reunião da Instância de Governança Regional (IGR) – espécie de “braço” turístico do Governo do Estado em cada região catarinense e que congrega também gestores municipais do setor. A medida, como se esperava, gerou reações de pesquisadores e entidades envolvidas na manutenção da memória do Contestado, que classificam a mudança como um atentado à história e às origens das populações de mais de 50 municípios catarinenses.
            “Promoveram a mudança desse destino oficial turístico sem amplo debate e anuência da população, organizações civis, outras instituições de turismo, ensino, pesquisa, tanto públicas quanto privadas”, afirma o professor do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Nilson Cesar Fraga, que estuda a região e a Guerra do Contestado há 25 anos. Nos últimos 20 anos, Fraga realiza projetos de extensão universitária em municípios que integram a região e defende que a utilização do termo ‘Contestado’ se caracteriza como uma indicação geográfica para uma das áreas que mais demandam de políticas públicas em Santa Catarina, justamente para romper o ciclo histórico de abandono, pobreza e miséria que segue-se desde o final da Guerra do Contestado, em 1916.
            “A mudança de Vale do Contestado para Vale dos Imigrantes torna a região esvaziada como atrativo dotado de territorialidade, alma e dignidade, dentre outras regiões catarinenses. O Vale dos Imigrantes é tão genérico e vazio que diretamente elimina toda uma população originária Barriga Verde”, destaca o professor Fraga, que também encaminhou denúncia ao Ministério Público de Santa Catarina (MP/SC) e à Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC) em que questiona a alteração do nome da região sem qualquer debate com especialistas e com as comunidades.
            Junto de outros pesquisadores, Fraga aponta a medida como mais uma tentativa de apagar o Contestado da história, num processo que busca esquecer as raízes indígenas da região (Botocudos, Kaingang, Laklãnõ/Xokléngs, Araucanos, Coroados e Guaranis) e apagar a trajetória de negros e, posteriormente, de caboclos e caboclas.
            Em artigo publicado no início do mês de outubro, no site Desacato: Vale do Contestado, uma morte anunciada, em julho de 2019, pelos que não aceitam a existência da cultura cabocla, Fraga questiona as motivações para a mudança do nome da região turística e destaca o aumento, nos últimos anos, do engajamento da população na tentativa de preservar as memórias das “heranças do Contestado”.  “São cinco anos de realização ininterrupta das Semanas do Contestado em Lebon Régis. Se acrescentarmos os eventos realizados nas demais cidades caboclas da região, desde 2012, quando começaram as rememorações dos centenários da Guerra do Contestado, foram ampliadas as discussões e os movimentos culturais e esportivos sobre o orgulho de se ser caboclo/cabocla, fazendo com que pessoas de diversos lugares do país acompanhassem o rompimento da invisibilidade imposta ao povo caboclo”, avalia o professor.
            O pesquisador observa a decisão de mudar o nome da região como mais um atentado cometido contra o povo do Contestado, num processo iniciado pelo genocídio dos caboclos na guerra, que avançou pela recolonização das suas terras por colonos de ascendência europeia e europeus e, desde 1930, pela negação da existência desse povo, perseguição e expulsão dos sobreviventes da guerra. “Agora querem ampliar a invisibilidade dessas gentes caboclas que, em alguns casos, não chegam a servir nem como mão de obra barata”, defende Fraga no artigo publicado em outubro. 
            O professor e coordenador da Associação Paulo Freire de Educação Popular (APAFEC), de Fraiburgo, Jilson Souza, integra o grupo de representantes de entidades da região que reforça a contrariedade com a retirada do nome “Contestado”.  “É um processo de silenciamento e marginalização da caboclada do Contestado. A razão central disso é mais uma vez impor um pacto de silêncio aos caboclos e caboclas do Contestado, numa tentativa de branqueamento desta região, e o pior aspecto é que querem repetir a marginalização que já aconteceu na Guerra e no período posterior”, avalia. Souza aposta na revisão imediata da decisão e reforça o movimento contrário à medida, que buscou o apoio da Assembleia Legislativa e do Judiciário de Santa Catarina.

“Herança” do Contestado
            O pesquisador Nilson Fraga explica que a região, a exemplo do Cariri (Ceará) e Canudos (Bahia), é reconhecida nacionalmente como um selo de historicidade sobre o espaço geográfico, enquanto que os “vales dos imigrantes” estão por todo o território catarinense. Isso retira a importância do Contestado que foi recolonizado a partir da Guerra. O conflito marcado pelo massacre de caboclos, posseiros, indígenas e pequenos proprietários rebelados, por forças do Estado a serviço dos interesses de empresas multinacionais e grandes proprietários de terras, deixou marcas sociais e econômicas na região até nossos dias.
            O professor da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, Paulo Pinheiro Machado, concorda com a análise de Fraga e aponta sérios equívocos na decisão da IGR Vale do Contestado. Para ele, a medida amplia a marginalização da população remanescente do Contestado, principalmente a população cabocla. “Toda aquela região foi violentamente despovoada por causa da Guerra do Contestado. Depois, nos anos 30 e 40, foi recolonizada com migrantes vindos do Rio Grande do Sul, em grande número. O fato é que essa migração suplantou a memória local e marginalizou a população remanescente do Contestado, que foi alijada dos principais serviços e empurrada para regiões mais íngremes, pedregosas e insalubres”, explica Pinheiro Machado, que também coordena o Grupo de Investigação sobre o Movimento do Contestado.
São João Maria o santo dos Caboclos e Caboclas
            Na visão do pesquisador, a IGR busca um projeto turístico que imite cidades como Gramado e Canela, buscando emplacar um modelo copiado, sem qualquer identidade regional. Para ele, não há alternativa turística razoável sem a memória efetiva do território e da população nele existente. “Inventar outra tradição não é a solução, porque sempre será piorado. Tentarão inventar coisas para invisibilizar a população cabocla, além dos próprios descendentes de imigrantes italianos e alemães que também participaram do movimento do contestado”, observa Paulo Pinheiro Machado.
            O que se sobressai na origem dessa mudança de nome da região, segundo o professor, é o preconceito de classe contra pobres e camponeses, e o racismo contra os negros, índios e caboclos. “O que chama a atenção nessa proposta é a vergonha de ser brasileiro. E isso que está na base. Santa Catarina tem milhares de vales europeus e de imigrantes. São nomes que se repetem. Preferem isso à identidade da Guerra do Contestado, um tema que já está em debates nacionais, já caiu no Enem. É realmente muito lamentável que a própria região não valorize seu passado e sua história”, conclui.

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