Uma das mais
promissoras descobertas da medicina é que doses frequentes de exercício reduzem
o risco de morte prematura por doença cardíaca em até 40%
Pense em uma
medicação acessível, barata e sem contra indicação, capaz de combater com
eficiência problemas cardíacos, derrames, diabetes, obesidade, câncer, sintomas
da doença de Alzheimer e de depressão.
Ainda mais:
favorece o aprendizado e a memória, melhora a capacidade de concentração e o
humor. E tem o potencial para evitar mortes prematuras mais do que qualquer
outro tratamento único, sem nenhum dos efeitos colaterais das medicações em
geral.
Parece impossível?
Nada disso. Nos últimos anos, vários de estudos têm mostrado que o exercício
aeróbico regular e em especial a corrida não só traz benefícios para a saúde
física e mental, como também ajuda a viver por mais tempo. “A atividade física é uma droga milagrosa”,
diz pesquisador Erik Richter, especialista em diabetes da Universidade de Copenhague,
na Dinamarca. “Provavelmente não há um único órgão do corpo que não é afetado
positivamente por ela.”
O fato é que os
seres humanos foram ativos por muito tempo ao longo da evolução. Aliás, quanto
mais corressem, mais tinham chances de sobreviver e passar seus genes para
descendentes. Por séculos e séculos nossos ancestrais perseguiram presas como
caçadores/coletores e fugiram dos predadores. Mais recentemente, trabalharam em
fazendas e fábricas. Mas o declínio do trabalho agrícola e industrial, bem como
a invenção do automóvel e uma infinidade de dispositivos que nos fazem
economizar movimentos – como a TV, os controles remotos, os elevadores, os
computadores e os jogos de vídeo – nos trouxeram uma espécie de paralisação
repentina e catastrófica. É como se nas últimas décadas tivéssemos adoecido de
sedentarismo.
“Fomos feitos para
ser ativos, mas a forma como nosso ambiente e estilo de vida se transformaram e
com isso surgiram doenças que antes não tínhamos”, afirma o professor de
medicina do esporte Christopher Hughes, da Universidade de Londres.
Pesquisadores da
Universidade da Carolina do Sul, em Columbia (EUA), realizaram um experimento
com mais de 50 mil homens e mulheres e chegou a uma conclusão importante: a
falta de aptidão cardiorrespiratória, desenvolvida com a prática da corrida,
foi o fator de risco mais importante para morte precoce, aparecendo em 16% dos
casos como causa decisiva para as mortes de homens e mulheres ao longo do período
de estudo mais do que as contribuições combinadas de obesidade, diabetes e
colesterol alto, ultrapassando até mesmo o fumo, responsável por 8% dos óbitos.
Um relatório
divulgado pela Organização de Diabetes do Reino Unido revela que em 1935,
quando a população mundial era pouco mais de 2 bilhões de pessoas, cerca de 15
milhões de tinham o tipo 2 da doença. Até 2010, quando a quantidade de
habitantes do planeta tinha aumentado mais de três vezes, o número de pacientes
com diabetes já chegava a 220 milhões, com previsão de 300 milhões previstos
para daqui a dez anos.
O preço que
pagamos pela inatividade é alto. O Ministério da Saúde divulgou pesquisa com
dados preocupantes: que quase metade da população brasileira está acima do
peso. Segundo o estudo, 42,7% da população estava nessa condição em 2006. Em
2011, o número passou para 48,5%. O levantamento é da Vigilância de Fatores de
Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).
Durante o levantamento, foram coletadas informações em 26 capitais brasileiras
e no Distrito Federal. Segundo a endocrinologista Rosana Radominski, presidente
do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (Sbem), os novos resultados não são novidade. “O dado agravante é o
aumento de mais de 0,5% do excesso de peso e da obesidade em um ano. Isso é alarmante,
se formos extrapolar os dados para os próximos dez anos”, alerta a médica.
A boa notícia é
que é possível fazer algo nem tão complicado para reverter esse quadro. Uma das
mais recentes e promissoras descobertas da medicina é que doses frequentes de exercício
moderado reduzem o risco de morte prematura por doença cardíaca em 40%.
Mesmo no caso de
doenças graves a atividade física pode funcionar como fator de proteção. Um
estudo coordenado por cientistas da Universidade Southwestern Medical Center,
em Dallas (EUA), por exemplo, mostrou que o exercício estimula as células a
queimar o “lixo”, no qual costuma estar incluindo DNA defeituoso ou mutante que
pode desencadear o câncer. Apenas 15 minutos dedicados por dia aos exercícios
físicos metade do mínimo diário de 30 minutos recomendados pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) garantem um ganho enorme: em média, três anos a mais de
vida.
Foi o que mostrou
um trabalho desenvolvido em Taiwan, na China, no qual foi acompanhado durante
oito anos um número impressionante de pessoas: 400 mil, de variadas idades.
Embora outras investigações sejam necessárias para confirmar esses dados, os
cientistas estão entusiasmados com as conclusões. “Para eles, mesmo reduzida, a
atividade física diária ainda trouxe ganhos significativos para homens e
mulheres, jovens e idosos, fumantes e não fumantes e até mesmo para grupos de
alto risco como diabéticos e hipertensos”.
Outro estudo,
coordenado da Universidade de Queensland, na Austrália, revela mais um dado
impressionante: seis horas de sedentarismo por dia sem contar o período de sono
– diminui, em média, cinco anos na vida de uma pessoa. O curioso é que uma das
desculpas mais comuns dos sedentários é que não têm tempo para se exercitar.
Mas é justamente a atividade física que pode garantir mais tempo às pessoas.
FAZ BEM PRA CABEÇA
No filme Para
sempre Alice, pelo qual Julianne Moore ganhou o Oscar de melhor atriz este ano,
o neurologista faz uma recomendação para a personagem, diagnosticada com
Alzheimer precoce: faça bastante exercícios.
Não por acaso o
médico lhe oferece esse conselho. Recentemente, a pesquisadora norte-americana
Beth Levine, comprovou o exercício físico não apenas favorece a oxigenação do
cérebro, melhorando suas funções, mas também age diretamente nas células, o que
ajuda a adiar sintomas de demências e até mesmo a degeneração neurológica.
Em 1999, a
cientista Henriette vam Praag, pesquisadora do Instituto Nacional dos Estados
Unidos sobre Envelhecimento, descobriu que os ratos que se exercitavam em suas
gaiolas, usando uma roda de corrida, desenvolviam as células do hipocampo, uma
parte do cérebro vital para a memória. “Animais que se exercitaram diariamente
por cerca de um mês tiveram uma duplicação e até triplicação dos neurônios
dessa região”, conta ela.