Debate
sobre a memória e cultura do Contestado aconteceu ontem, 10 de dezembro, na
Assembleia Legislativa, com a presença do professor/pesquisador Paulo Pinheiro
Machado e do educador popular Jilson Carlos Souza. Quem fez abertura da noite
foi o trovador Pedro Pinheiro, com o lançamento do disco: "Um Outro Olhar
do Sul".
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Paulo relata que a mudança de nome da Região repercute internacionalmente |
Na data em que se
comemorou o dia internacional dos direitos humanos (10 de dezembro), aconteceu
o debate sobre a valorização, memória e cultura na região do contestado, na
Assembleia Legislativa de Santa Catarina. O professor/pesquisador da UFSC Paulo
Pinheiro Machado e o educador popular Jilson Carlos Souza (Associação Paulo
Freire de Educação e Cultura Popular – Apafec/Fraiburgo/SC) contextualizaram a
tentativa de mudança do nome da região do Contestado, que abrange parte do Vale
do Rio do Peixe e do Planalto Norte, para região dos Imigrantes.
A modificação do
nome segundo os pesquisadores da área que divulgaram no início do mês de
novembro textos sobre o tema, aconteceu à portas fechadas, em 4 de julho desse
ano. “55 imbecis nessa data planejada, que obrigavam durante toda história
os/as caboclos e caboclas festejar a independência dos EUA, que se reuniram em
Catanduvas e resolveram que o ‘Vale do Contestado’ passaria a se chamar ‘Vale
dos Imigrantes’. A partir disso, as organizações do território passaram a se
organizar e resistir a essa repugnante decisão feita à portas fechadas. Querem
esconder que a nossa região é de negros,
índios. Temos a presença indígena datada de 30 mil anos com as primeiras
civilizações. Os primeiros negros chegaram na região em 1542 com o espanhol
Cabeça de Vaca. Toda história de resistência do povo caboclo esses imbecis
estão querendo apagar”, disse Jilson Carlos Souza.
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Mistura da região teve inicio em 1542 |
Segundo os materiais
divulgados em novembro ainda, essa decisão de mudança de nome foi imposta
durante a reunião da Instância de Governança Regional (IGR). “Espécie de
“braço” turístico do Governo do Estado em cada região catarinense e que
congrega também gestores municipais do setor. A medida, como se esperava, gerou
reações de pesquisadores e entidades envolvidas na manutenção da memória do
Contestado, que classificam a mudança como um atentado à história e às origens
das populações de mais de 50 municípios catarinenses”, diz o texto.
Repercussão
é internacional
Levar esse debate
sobre a cultura e memória da região do contestado para espaços como a
Assembleia Legislativa aponta que o tema não pode ser visto, segundo o
professor/pesquisador Paulo Pinheiro Machado, como uma discussão regional, mas
que tem repercutido internacionalmente. “É um debate importante, se trata de
uma disputa de memória, do apagamento da história de toda uma população,
gerações que lutaram pela terra, vida, dignidade. O Contestado é referenciado
internacionalmente, como outros movimentos sociais do Brasil e da América
Latina (Cabanagem, Balaiada, Canudos)”, destacou o professor acrescentando
ainda, que a resistência pela manutenção do nome do Vale do Contestado
representa a luta contra o coronelismo, contra as ferrovias do capital estrangeiro.
Um
Outro Olhar do Sul
O músico/trovador
Pedro Pinheiro foi quem deu início à noite de debate na Assembleia Legislativa,
trazendo canções do seu disco denominado: “Um Outro Olhar do Sul”, junto à
canções sobre o Contestado e outras que segundo ele, retratam a realidade
dos/as “invisíveis”. “Trouxemos um olhar mais crítico, dos invisíveis do Sul em
um momento que querem deixar esses invisíveis à parte da história. Toda essa
luta do Contestado, do povo Sulino e que muitas vezes é fantasiada de branco e
que de fato tem gente branca, acaboclada, indígena, negro/a, é a luta do povo
que a gente quer mostrar, relatar em nossas canções. Esse é o olhar que
queremos dar”, disse.
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Pedro destaca a tentativa de invisibilizar o Povo Caboclo |
O trovador destacou
ainda a tentativa de invisibilização que voltou a atingir populações inteiras.
“É um período bem difícil da conjuntura nacional. As pessoas que já eram
visibilizadas agora estão sendo ainda mais, por isso essa arte é importante e
nós fizemos resistência por meio dela. Esperamos que essas canções cheguem em
outros espaços, inclusive, para pessoas que não gostam e não querem ouvir essas
letras, mas precisam”, finalizou.
Fonte: Desacato.info
Foto: Claudia Weinman
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