Foto: Claudia Weinman. |
A minha primeira experiência no campo da comunicação
popular se deu no grupo de jovens da comunidade, na organização da Pastoral da
Juventude do Meio Popular e Pastoral da Juventude Rural. Nesse espaço sempre
foi possível acompanhar o vozear na linguagem própria do povo.
A faculdade, a redação, tudo isso surgiu depois. A linha
de compreensão já era outra, diferente das telas prontas com textos da VEJA.
Por isso n’A Outra Reflexão quero falar sobre duas faces. Como é hoje observar
o trabalho em uma cooperativa de comunicação independente e a feita em um meio
tradicional.
Trabalhei em um único veículo de comunicação
tradicional, indicada pela coordenação do curso já no segundo semestre da
faculdade de jornalismo. Fui terceirizada algumas vezes escrevendo para outro
comercial, diário dessa vez, para assessoria de prefeitura e tantas outras
tarefas que me ocupavam o dia. Muitas vezes usava o dinheiro do trabalho para
pagar a aula que eu não podia frequentar, pois tinha que trabalhar na cobertura
de interesse de um determinado cliente. Sempre foi assim, perdi mais do que
ganhei nesse trabalho.
Escrevi muito. Errei também. Sempre envolvida no tanto
de tarefas e o português me abandonava por vezes. No caso, eu o desertava, pois
não havia tempo hábil para tanta coisa. “Aprendi”, como se fala, no vocabulário
popular: “no grito”, ou, “com gritos”, literalmente. Isso foi terrível.
Disseram-me certa vez:
“Acho que tu está na profissão errada”.
O grande equívoco é pensar que o coração do jornalismo
que batia no meu peito estava errado. Na verdade, pulsava e vibra hoje em um
compasso diferente da linha comercial, daquele cliente que paga para aparecer,
que edita as palavras, a ordem e o fim da página. Pensar que o jornalismo é um
negócio, uma coisa para vender e não uma forma de conhecimento, isso sempre me
guiou para revolta, até chegar o dia em que paguei para sair.
A palavra “literalmente” aparece de novo, percebem? Pedi
grana emprestada e paguei meu pedido de demissão. Desta vez perdi dinheiro, me
fez falta, claro. Mas o que ganhei foi um grupo me abraçando e dizendo que o
desafio agora era outro. Estava em construir com mais tempo, com maior
dedicação um projeto comunicacional junto daqueles e daquelas de quem eu sempre
quis falar, escrever, priorizar. Dos que nunca tiveram espaço no comercial,
apenas quando pagavam, e entre nós, que ninguém saiba: Mesmo pagando, a ordem
era: Dois parágrafos, não mais. A dor dos outros não interessava, não interessa
nessa lógica.
“Mas você aprendeu muita coisa lá, que falta
de agradecimento”!
Se aprende como um jornalista não deve ser. Nenhum ser
humano agradece por ser explorado, por sentir dor no estômago quando o texto
que vai vender é sobre o veneno que mata de câncer tantos por dia.
No contraponto, em uma cooperativa de comunicação
independente as pessoas aprendem coletivamente, se ajudam, discutem entre si
para o melhor, escrevem muito, editam demais, fotografam, gravam vídeos,
áudios, fazem cobertura, mas vivem, convivem e se abraçam, brigam, pois tudo
pertence a todos e todas com um carinho grande por quem deu início ao projeto.
Sabemos que dos passos coletivos se dedica a renda que nos possibilita comer,
sair, ler, tomar o chimarrão ou o café no momento que desejarmos. Não é
simples, existem reveses, ações que precisam de formação dia a dia. Mas,
sobretudo, é o espaço que desejamos estar e que é bom, é nosso, dá certo e nós
estamos construindo.
A gente, enquanto cooperativa, não mora junto, em uma
casa só. Mas quando acordo de manhã e abro as conversas no telefone, recebo um
bom dia de cada uma e cada um. É como sentir o cheiro das pessoas, perceber que
um ou outro não está bem naquele dia. Eu não durmo com ninguém da cooperativa,
só às vezes, raramente. Mas acordo todos os dias com toda essa gente.
Me preocupa…
Que na conjuntura que estamos vivendo a situação que
retratei em linhas anteriores vem piorando e muito. Sinto ver meninos e meninas
buscando espaço nos meios de comunicação tradicionais, fazendo três turnos, sem
receber dignamente horas extras dos empresários donos dos meios de produção da
informação, muitos dos quais, aprenderam na faculdade de jornalismo como vender
palavras. E o que fazem? Exploram, pois essa é a lógica do capitalismo. Não
existe conciliação de classes, nem patrão que ajuda funcionário, o capitalismo
precisa de explorados e exploradores para “dar certo”. Por isso aprovam uma
reforma trabalhista e outra, da previdência. O que importa é o lucro e não à
vida.
Quem sabe a gente converse mais sobre esse tema em outra
coluna. Não se pode ocultar o que fazem esses, que pensam que a gente não
pensa, ou que sabem que pensamos, por isso, ocultam, ordenam, impõe.
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Claudia
Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no
Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude
do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
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