Minha mãe me ensinou um ditado muito
sábio: “só recebe pedrada a laranjeira que produz frutas”. E a partir desta
frase quero refletir sobre três posições que as pessoas adotam diante dos
problemas sociais que acontecem cotidianamente.
Uma primeira é de ignorar os fatos, e
seguir a confortável ou desconfortável vida. Uma segunda saída é não ignorar,
perceber os problemas, e falar, e quem sabe atirar pedras. E a outra
possibilidade, a que é aderida por um contingente menor de pessoas, é de
arregaçar as mangas e trabalhar, encontrar a causa dos problemas e buscar
resolver, e receber pedradas!
Temos no Brasil diversas iniciativas
populares que buscam resolver os problemas sociais. Quero chamar a atenção para
o trabalho que desenvolve a APAFEC, no município de Fraiburgo/SC.
Desde sua fundação em 2002, essa
entidade já capacitou 950 pessoas com informática e acesso a internet. Envolveu
500 crianças, adolescentes e jovens em atividades esportivas.
Além de todas essas atividades
louváveis, há um outro feito que merece destaque: o fato de elevar a auto
estima de uma população. O São Miguel, um bairro que era considerado como a
Galiléia; um gueto; um lugar problemático; um lugar perigoso; um lugar de
“bárbaros”, em relação aos “civilizados” do centro de Fraiburgo; hoje tem uma
das mais exitosas experiências de organização popular de Santa Catarina.
No Bairro São Miguel, há uma
alternativa solidária de capacitação e inserção cidadã para diversos jovens. Há
alguém que está ali o tempo todo, ouvindo os problemas, aprendendo com os menos
favorecidos, formando lideranças. Há alguém que não espera a época de surrupiar
votos, ou que vive lá do centro falando que os problemas da cidade vêm do São
Miguel.
Esse alguém é um ator coletivo. A
APAFEC é uma rede construída por várias mãos, e que nessa construção tira
correntes de preconceito, para semear esperança. Nesse caminhar vai derrubando
as sentenças imobilistas que saem das bocas elegantes e bem alimentadas, que
dizem que a vida é “assim mesmo”, se organizar é “perder tempo”.
Oxalá que mais laranjeiras do tipo da
APAFEC nasçam e produz destes saborosos frutos de cidadania e inclusão
social. Parabéns pelos 10 anos! E que venham as pedradas nesta
próxima década!
Por Maciel Cover (*) Doutorando em
Ciências Sociais Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, viveu na região
do Contestado de 2007 e 2008.
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