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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

“A luta pelo Vale do Contestado é resistência contra o coronelismo e ferrovias do capital estrangeiro”

Debate sobre a memória e cultura do Contestado aconteceu ontem, 10 de dezembro, na Assembleia Legislativa, com a presença do professor/pesquisador Paulo Pinheiro Machado e do educador popular Jilson Carlos Souza. Quem fez abertura da noite foi o trovador Pedro Pinheiro, com o lançamento do disco: "Um Outro Olhar do Sul".
Paulo relata que a mudança de nome da Região repercute internacionalmente 
Na data em que se comemorou o dia internacional dos direitos humanos (10 de dezembro), aconteceu o debate sobre a valorização, memória e cultura na região do contestado, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. O professor/pesquisador da UFSC Paulo Pinheiro Machado e o educador popular Jilson Carlos Souza (Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular – Apafec/Fraiburgo/SC) contextualizaram a tentativa de mudança do nome da região do Contestado, que abrange parte do Vale do Rio do Peixe e do Planalto Norte, para região dos Imigrantes.
A modificação do nome segundo os pesquisadores da área que divulgaram no início do mês de novembro textos sobre o tema, aconteceu à portas fechadas, em 4 de julho desse ano. “55 imbecis nessa data planejada, que obrigavam durante toda história os/as caboclos e caboclas festejar a independência dos EUA, que se reuniram em Catanduvas e resolveram que o ‘Vale do Contestado’ passaria a se chamar ‘Vale dos Imigrantes’. A partir disso, as organizações do território passaram a se organizar e resistir a essa repugnante decisão feita à portas fechadas. Querem esconder que a  nossa região é de negros, índios. Temos a presença indígena datada de 30 mil anos com as primeiras civilizações. Os primeiros negros chegaram na região em 1542 com o espanhol Cabeça de Vaca. Toda história de resistência do povo caboclo esses imbecis estão querendo apagar”, disse Jilson Carlos Souza.
Mistura da região teve inicio em 1542
Segundo os materiais divulgados em novembro ainda, essa decisão de mudança de nome foi imposta durante a reunião da Instância de Governança Regional (IGR). “Espécie de “braço” turístico do Governo do Estado em cada região catarinense e que congrega também gestores municipais do setor. A medida, como se esperava, gerou reações de pesquisadores e entidades envolvidas na manutenção da memória do Contestado, que classificam a mudança como um atentado à história e às origens das populações de mais de 50 municípios catarinenses”, diz o texto.

Repercussão é internacional
Levar esse debate sobre a cultura e memória da região do contestado para espaços como a Assembleia Legislativa aponta que o tema não pode ser visto, segundo o professor/pesquisador Paulo Pinheiro Machado, como uma discussão regional, mas que tem repercutido internacionalmente. “É um debate importante, se trata de uma disputa de memória, do apagamento da história de toda uma população, gerações que lutaram pela terra, vida, dignidade. O Contestado é referenciado internacionalmente, como outros movimentos sociais do Brasil e da América Latina (Cabanagem, Balaiada, Canudos)”, destacou o professor acrescentando ainda, que a resistência pela manutenção do nome do Vale do Contestado representa a luta contra o coronelismo, contra as ferrovias do capital estrangeiro.

Um Outro Olhar do Sul
O músico/trovador Pedro Pinheiro foi quem deu início à noite de debate na Assembleia Legislativa, trazendo canções do seu disco denominado: “Um Outro Olhar do Sul”, junto à canções sobre o Contestado e outras que segundo ele, retratam a realidade dos/as “invisíveis”. “Trouxemos um olhar mais crítico, dos invisíveis do Sul em um momento que querem deixar esses invisíveis à parte da história. Toda essa luta do Contestado, do povo Sulino e que muitas vezes é fantasiada de branco e que de fato tem gente branca, acaboclada, indígena, negro/a, é a luta do povo que a gente quer mostrar, relatar em nossas canções. Esse é o olhar que queremos dar”, disse.
Pedro destaca a tentativa de invisibilizar o Povo Caboclo
O trovador destacou ainda a tentativa de invisibilização que voltou a atingir populações inteiras. “É um período bem difícil da conjuntura nacional. As pessoas que já eram visibilizadas agora estão sendo ainda mais, por isso essa arte é importante e nós fizemos resistência por meio dela. Esperamos que essas canções cheguem em outros espaços, inclusive, para pessoas que não gostam e não querem ouvir essas letras, mas precisam”, finalizou.

Fonte: Desacato.info
Foto: Claudia Weinman
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