Grande amigo, apaixonado por política e
por futebol e, como só se diz no Brasil, irritantemente honesto, conta ouvir de
seu analista que ele sofre de “masoquismo patológico”.
Só pode.
Porque não há nada mais parecido com o
Brasil que o futebol brasileiro, ou, por outra, nada mais parecido com o
futebol brasileiro que o Brasil.
Deixemos pra lá o Marco Polo que não viaja
e seus antecessores.
Lembremos, de novo, dos acontecimentos
recentes no Palmeiras, e dos no Corinthians, em 2005.
Então, dizia-se: “Não importa a origem do
dinheiro da MSI desde que venha via Banco Central”.
Assim é no futebol e na política.
Se o dinheiro vem de tráfico de drogas, de
armas, de porca agiotagem, de doleiro, de lavagem, dane-se, importa aparentar
ser decente.
Há até quem distinga o dinheiro de caixa 2
para se eleger do para enriquecer nas campanhas, como se fossem dinheiros
diferentes e como se quem usa para um fim não use para o outro.
Do mesmo modo os petistas, em vez de
ajoelhar no milho e pedir desculpas ao país por terem se lambuzado, dizem ter
agido como os demais partidos, como se isso os inocentasse.
O caso do Corinthians acabou na morte,
aparentemente por envenenamento, do chefão russo Boris Abramovich Berezovsky em
seu luxuoso apartamento em Londres.
Mas o dinheiro dele entrava pelo Banco
Central para comprar Carlitos Tévez, Nilmar, Mascherano e sabe deus quem mais.
Era, do enviesado ponto de vista em voga,
“legal”.
Na segunda-feira passada vimos espetáculo
deprimente para validar a eleição como conselheira do clube da patrocinadora do
Palmeiras, Leila Pereira, sem ter tempo suficiente como sócia para tanto.
Simplesmente se fez tabula rasa do
estatuto porque, segundo o discurso de um dos majoritários conselheiros
subservientes ao dinheiro da Crefisa, “não é hora para melindres legais diante
do tamanho do patrocínio”.
No Corinthians o dinheiro era sujo, mas
“legal”. No Palmeiras o dinheiro é visto como limpo, mas compra uma
ilegalidade.
Deixemos claro na suruba brasileira
(perdão rara leitora e raro leitor, mas o termo é de um membro da quadrilha
nacional), porque há quem não entenda: não se discute a legitimidade da
pretensão da patrocinadora palmeirense em vir a presidir o clube.
Só aponta-se para o fato de o estatuto
alviverde não permitir sua candidatura, objeção nem sequer mencionada na
votação legitimadora.
Simples assim, embora precise ser
desenhado num país em que traficante se vicia, prostituta se apaixona, cafetão
tem ciúme e pobre é de direita, como dizia Tim Maia. E jornalista faz merchan.
É mesmo a cara do Brasil.
Os tucanos chamam de petralhas quem vê o
atual governo pior que o anterior. Os petistas chamam de coxinhas quem acha o
inverso.
Os corintianos chamavam de “anti” os
críticos da MSI, da Arena Corinthians e da promiscuidade com o governo.
Os palmeirenses chamam de invejosos quem
mostra a indecência em curso no clube.
Porque é tudo por dinheiro e, se é assim,
fica uma sugestão, sem ironia, sem segundas intenções e melhor que a achada
pelo eleitorado dos Estados Unidos: Silvio Santos para presidente!
Por Juca Kfouri
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