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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Uma carta para Paulo Freire

Por Luana Tolentino*

‘Meu Mestre querido, as coisas não estão fáceis. À nossa volta, muito horror e destruição. Ainda assim, mantenho a esperança’...

Paulo Freire patrono da educação no Brasil

Sinto uma alegria imensa em poder lhe escrever. Vinte e três anos se passaram desde que o senhor nos deixou. Durante o tempo em que frequentei um centro espírita kardecista, aprendi que, ao deixar o plano terreno, cada um de nós vai para um lugar diferente. Caso isso seja verdade, imagino que o senhor tenha como vizinha a Carolina Maria de Jesus.

Digo isso pois, assim como o senhor, ela sempre defendeu os mais pobres. Além disso, no livro Quarto de despejo, Carolina deu contribuições significativas para pensarmos na urgência de uma educação emancipatória. Antes mesmo de o senhor publicar A importância do ato de ler, ela, que pôde frequentar a escola por apenas dois anos, escreveu: “Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem”.

Pensando nisso, no ano passado, propus um trabalho em que meus alunos e alunas do curso de Pedagogia tiveram que estabelecer um diálogo entre o seu livro e o diário da Carolina. Tenho certeza de que o senhor ficaria muito feliz ao ler os artigos que eles produziram.

Como deve saber, vivemos tempos muito difíceis. Estamos cansados. Não conseguimos respirar. Como bem disse um sertanejo de Quixeramobim, município do Ceará: “a peste chegou”. Diariamente, vemos ofensas a sua pessoa e ao seu legado. O que não é nenhuma novidade, uma vez que as perseguições ocorridas logo após o golpe de 1964 o obrigaram a partir para o exílio. Uma coisa é certa: os que o agridem jamais leram um só livro do senhor.

Há alguns dias, reli Pedagogia do oprimido. Confesso que foi uma leitura muito angustiante. Embora tenhamos avançado nas duas últimas décadas, a verdade é que as bases que sedimentam o nosso país continuam as mesmas. Assim como nos idos de 1960, os que detêm o poder falam em “ameaça comunista”, dizem defender os “valores da família”. A todo momento, apropriam-se do nome de Deus. Dessa forma, criam artifícios para atender aos interesses das “elites dominadoras”, ao passo que cresce o número de “esfarrapados do mundo”: sem emprego, sem direitos e sem perspectivas de futuro. São estes as maiores vítimas da Covid-19, que já matou mais de 100 mil pessoas.

Durante a leitura, senti raiva dos “opressores falsamente generosos”, que diante dos “demitidos da vida” se arvoram a fazer “caridade” somente para alimentar o próprio ego. Estes, em momento algum, refletem que os famintos, os que estão desabrigados são resultado de uma ordem injusta, que desumaniza, entorpece e cria abismos. Recusam-se a entender que a massa de miseráveis somente deixará de existir com educação de qualidade, criação de políticas públicas de inclusão sociorracial e distribuição de renda.

Bom seria se pudessem aprender com o senhor: “A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, estas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de súplica. Súplicas de humildes a poderosos. E se vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo”.

Mas a leitura não me trouxe apenas raiva e angústia. Terminei Pedagogia do Oprimido com a certeza de que por meio da educação podemos ampliar o direito à cidadania aos que ainda não podem exercê-la. Senti vontade de ir correndo para a sala de aula ensinar, partilhar tudo que aprendi. Como é bom tê-lo como mestre. O livro me fez rever a minha caminhada como professora da Educação Básica em bairros pobres da região metropolitana de Belo Horizonte. Bairros que lembram muito a periferia do seu Recife.

Sempre busquei fazer com que os meninos e meninas com quem convivi diariamente compreendessem que as condições precárias de existência, vivenciadas por eles e por seus familiares, são resultantes das injustiças e dos desmandos que marcam o Brasil desde o nascedouro. Nossas aulas de História eram permeadas pelo o que o senhor chamou de dialogicidade. Nunca vi os estudantes como “vasilhas” nas quais eu devia depositar conteúdos. Muito pelo contrário: por meio do diálogo, ensinava o que sei e aprendia com as experiências, com as visões de mundo que meus alunos e alunas carregavam. É bem verdade que por vezes falhei, mas garanto ao senhor que busquei implementar a pedagogia do oprimido. Uma “pedagogia humanista e libertadora”.

Além de exercer a docência, tenho tido a oportunidade de viajar pelo país e conversar com professores dos ensinos Fundamental e Médio. Nessas andanças, levo o seu pensamento e tento fazer com que meus colegas de jornada percebam a função social da educação. Tento mostrar que a escola pode e deve ser o lugar do encanto, o lugar em que professores e estudantes se sintam realizados.

Insisto em dizer que precisamos assumir a condição de pensadores da Educação, como um dos caminhos para ressignificar a nossa profissão e exigir o respeito que ela merece. Insisto ainda em afirmar que não podemos aceitar o lugar do silêncio. Não podemos aceitar que nos seja imposto o papel de meros transmissores dos conteúdos presentes nos livros didáticos. No meu entendimento, ao agirmos assim, construímos alternativas para enfrentar as omissões em relação à educação e ao fazer docente.

Também nessas andanças, tenho presenciado iniciativas que reforçam minha certeza de que outra educação é possível. Em dezembro do ano passado, participei do I Seminário de Docência de Natal, evento promovido pela Secretaria Municipal de Educação potiguar. Foi a primeira vez que estive em um encontro protagonizado por professores e professoras da Educação Básica. Foi uma das coisas mais bonitas que vi na vida. Mais bonito ainda foi ter o senhor como o grande homenageado. Quando a professora Ednice Peixoto, organizadora do evento, mencionou o seu nome no microfone, o auditório quase veio abaixo. O senhor foi aplaudido por longos minutos. Ainda que uns e outros desejem o contrário, o senhor é e sempre será o nosso Patrono da Educação.

Meu Mestre querido, as coisas não estão fáceis. À nossa volta, muito horror e destruição. Ainda assim, mantenho a esperança. Esperança do verbo esperançar. Conforme o senhor afirmou: “Minha esperança é necessária, mas não suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem ela, a luta fraqueja. Precisamos da esperança crítica, como o peixe precisa da água despoluída.”

Um abraço grato e terno.

*Luana Tolentino - Mestra em Educação pela UFOP. Atuou como professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana. Atualmente é professora universitária.

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Futebol: Que parem os campeonatos

Por Elaine Tavares*

Eu sempre amei o futebol. Desde menina vibrando a partir das cadeiras vermelhas do estádio do Internacional de São Borja. O pai era radialista, então eu tinha aquele espaço de privilégio. Depois, quando os times se juntaram no Esporte Clube São Borja, lá segui eu o novo time, no novo estádio. A paixão mesmo era pelo que acontecia em campo, aquele bailado, os dribles, o gol.

Muitos anos depois tive a alegria de trabalhar como setorista no Figueirense, em Florianópolis, e foi daí que nasceu meu amor pelo alvinegro. Ainda assim era o futebol o meu encanto. Mas, na prática do trabalho também fui conhecendo a gurizada, os seres que fazem a festa acontecer. Nos clubes menores tende a não haver grandes estrelas. Todos estão no mesmo nível, sem altos salários e com trabalho duro. Todos os dias, o treinamento pesado. Muita academia, muito suor, muito treino tático, com o corpo sendo levado ao seu limite.  Não é bolinho não.

Foi aí que descobri que aquele bailado, os dribles e o gol não existem sozinhos, eles precisam ter corporalidade, nome, sobrenome. Vai daí que os jogadores acabam sendo o centro de tudo. Sem eles, nada. Eles são esse corpo coletivo que levanta as gentes nos estádios. Eles são parte constitutiva dessa belezura toda.

Imagem de divulgação

Por isso me encho de ódio ao ver os cartolas dos times, as empresas patrocinadoras, e as redes de TV exigindo que os campeonatos recomecem. A cada notícia de mais um jogador infectado, mais meu ódio aumenta. Como é possível tanta maldade? Tanta desimportância pela vida do outro? Em cada treinamento lá se vão oito, nove, 12 garotos para o drama da Covid-19. Que insanidade! E o pior é saber que eles sequer podem dizer não. São trabalhadores. Estão sob o tacão do capital. Ou jogam ou estão fora. Esse é o tom. 

O futebol é um jogo coletivo, de muito toque e de contato. Não há como jogar sem o risco de se contaminar. E não é possível que os amantes do futebol possam querer que isso continue, como se fosse um combate de gladiadores. É preciso proteger os jogadores como a se protegem os demais trabalhadores nessa hora de angústia e incerteza. As torcidas organizadas deveriam fazer protestos, gritar, impedir esse sofrimento generalizado para os jogadores e suas famílias, que acabam se infectando também. Nada justifica o retorno dos campeonatos se não há sequer como ver os jogos presencialmente.

Para os donos dos times, a vida não importa. Se um jogador morrer, outro logo vem. Essa é lógica do capital. Mas, se o dinheiro não entrar nos seus bolsos eles podem repensar.  Nessa hora os que pagam pelo futebol, os torcedores, os sócios dos clubes, têm poder. Há que impedir essa insanidade. Exigir que os jogos sejam suspenso até que haja segurança para os trabalhadores.

Eu mesma não consigo ver nem ouvir a transmissão do jogo. Aperta-me o peito, me dói o coração. Coloco-me na pele daqueles homens que entram em campo, provavelmente assustados, e que precisam ainda vencer. Não, não dá! Que parem os campeonatos. Que se protejam os trabalhadores. Boicote aos times, às Federações, às emissoras de televisão. Aquele que ama mesmo o futebol há ter essa clareza. E os que apenas vêm dinheiro no processo, que se fodam!

*Elaine Tavares. Jornalista. Humana, demasiado humana. Filha de Abya Yala, domadora de palavras, construtora de mundos, irmã do vento, da lua, do sol, das flores.

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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Seguem as vendas no Brechó Virtual do Cecap


Para mobilizar recursos financeiros, com objetivo de pagar o empréstimo realizado para adquirir o segundo imóvel, onde desde agosto de 2010, estamos construindo o Cecap (Centro de Educação, Cultura e Arte Popular), a Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC), realiza o BRECHÓ VIRTUAL DO CECAP.

Já foram realizadas 07 vendas, sendo: Doze Cabides (R$ 14,90); Uma Impressora (R$ 139,90); 01 Fritadeira (R$ 99,90); Um Rack de teto de carro (R$ 49,90); Uma Cadeira giratória (R$ 79,90); e Dois tênis (R$ 49,90).

Agradecemos a quem já fez uma das compras citadas acima, e também agradecemos as pessoas que doaram os objetos que estão disponíveis para comercialização no Brechó Virtual do Cecap.

Adquira um dos mais de 30 itens disponíveis, leve para sua casa objetos seminovos e com muita qualidade, e de quebra ajude na construção desse sonho chamado Cecap. CLIQUE AQUI e conheça os produtos que ainda estão disponíveis.

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100 anos de Paulo Freire: O legado da Pedagogia Freireana e sua atualidade em tempo de pandemia do coronavírus e da ignorância...

        Com a apresentação da jornalista Claudia Weinman, acontece no sábado 08 de agosto, as 19h00min, a live/mesa redonda os 100 anos de Paulo Freire: O legado da Pedagogia Freireana e sua atualidade em tempo de pandemia do coronavírus e da ignorância. A transmissão será ao vivo no Facebook e no YouTube do Portal Desacato.
        Os dialogadores/a serão: Naira Mohr - doutora em educação, professora da UFFS em Erechim; Maciel Cover - doutor em educação, professor da Universidade Federal do Tocantins; Anderson Moreira - mestre em comunicação, jornalista, educador popular e membro do Conselho Deliberativo do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo - CEFURIA; e Jilson Carlos Souza - educador popular da coordenação da Apafec. 

#100AnosPauloFreire 
#Desacato13Anos 
#SomandoVozes
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quinta-feira, 30 de julho de 2020

Marcelinho perde patrocínio após se encontrar com Bolsonaro

O banco que patrocina o clube retirou o ex-jogador do posto de embaixador da marca.

O ex-jogador Marcelinho Carioca perdeu um patrocínio após se reunir, nesta quarta-feira 29 de julho, com o presidente Jair Bolsonaro. No encontro, eles usaram a nova camisa do Corinthians, clube rival do Palmeiras, time pelo qual Bolsonaro torce.

A reunião se tornou um dos assuntos mais comentados das redes sociais e foi alvo de críticas até do comentarista Walter Casagrande, que, sem citar nomes, repreendeu a postura do ex-jogador corintiano.

Isso aqui é a democracia corinthiana - foto reprodução

“Eu cheguei em 1975 nesse clube aqui, no Corinthians, comecei minha vida lá, corintiano de garoto, cheguei para jogar no dente de leite, nas categorias de base do Corinthians. Em 1979, a torcida do Corinthians abriu uma faixa no Pacaembu dizendo ‘anistia para os presos políticos e exilados políticos’. Em 1982, 1983, até 1985 essa camisa aqui era da democracia corintiana, essa camisa representa liberdade, representa democracia, e nenhum ex-jogador tem o direito de representar o clube politicamente. Eu também não tenho. Isso aqui é democracia. Isso aqui sempre foi democracia”, disse Casagrande.

“Nação

De acordo com uma revista de circulação nacional, o encontro também gerou constrangimento na diretoria do Corinthians e no banco BMG, seu patrocinador. O clube se apressou em dizer que não tinha qualquer relação com o encontro. “O Sport Club Corinthians Paulista torna público que não teve qualquer participação na iniciativa do ex-jogador Marcelinho Carioca, em Brasília. A entrega da camiseta nesta quarta, na Presidência da República, foi uma ação única e exclusiva do ex-atleta”.

Fonte: Ler Agora.

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