O dia 12 de agosto de 2021 entra para a
história catarinense como um grande marco, ao ser protocolado no Conselho
Municipal de Patrimônio Cultural do município de Lebon Régis (Trombudo do
Contestado) o processo de tombamento do Crematório de Cadáveres de Perdizinhas,
no Coração do Contestado. Com este ato, é dado início ao pagamento da dívida
histórica republicana brasileira ao povo caboclo remanescente da Guerra do
Contestado, ocorrida oficialmente entre 1912 e 1916. Mas esta parcela do pagamento
está sendo paga, de fato, pela própria população do município com auxílio de
pesquisadores.
Nesta data, a região do Contestado, o
município de Lebon Régis (Trombudo do Contestado), o estado de Santa Catarina e
o Brasil vivem o marco inicial do reconhecimento e revalorização do patrimônio
contestadense-caboclo que seguiu praticamente abandonado pelos poderes públicos
estaduais e federais nos últimos 100 anos.
O pedido formal foi feito pela diretoria da
Associação Cultural Coração do Contestado, de Lebon Régis (Trombudo do
Contestado) e pela coordenação do Observatório da Região e da Guerra do
Contestado, que tem sede na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, que protocolaram
o primeiro pedido de tombamento de um sítio histórico-geográfico da Guerra do
Contestado e do martírio caboclo no Brasil. Esta ação, mais do que simbólica,
se caracteriza como um enorme passo no rompimento da invisibilidade, do
silenciamento e do esquecimento republicano sobre a causa de um dos momentos
mais caros registros de violência do Estado contra o povo brasileiro do sertão,
ao longo do processo de formação da nação brasileira.
Crematório das Perdizinhas em Trombudo do Contestado |
Fruto de muita luta da atual geração de
cidadãos, cidadãs e pesquisadores, contou com um forte envolvimento coletivo,
desde a proposição de legislação municipal sobre o tema, passando pelo rompimento
da desconfiança local e regional, vivendo momentos de incertezas e, tomados
pelos sonhos de numerosas pessoas envolvidas e que jamais deixaram de acreditar
que este dia histórico chegaria.
Podemos dizer que são mais de 100 anos de
lutas, resistências e encantamentos que buscam a plena coexistência de todos os
povos que formam o território catarinense e brasileiro na atualidade.
O estado de Santa Catarina tem basicamente
patrimônios tombados sobre a cultura ligada a imigração europeia, e
praticamente não há o reconhecimento sobre a cultura indígena, assim como da
cabocla e de outras. Este pedido de tombamento, se caracteriza como um ato mais
do que simbólico, ele visa demonstrar ao próprio estado que há urgência no
reconhecimento e aceite da diversidade dos povos formadores barrigas verdes e
que toda expressão cultural tem seu papel na história, por mais que tenha sido
ocultada e abafada pela força e venda de uma imagem europeizada catarinense.
É preciso reconhecimento e respeito de tudo,
de todas e de todos que fazem Santa Catarina existir, sem a eliminação de
determinados grupos sociais, pois tal esquecimento e abandono representa a
própria proscrição do estado como um todo!
Em breve, assim que a lei for aprovada,
traremos um estudo mais profundo que explicará a importância deste Crematório
de Cadáveres de Perdizinhas como patrimônio tombado do Povo Caboclo na região
da Guerra do Contestado.
Por Nilson Cesar
Fraga,
Geógrafo - Pesquisador do CNPq, Universidade Estadual de Londrina e Coordenador do Observatório da Região e da
Guerra do Contestado
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