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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Alguns querem palco, outros/as luta.

Estamos falando de dois tipos de luta, é engraçado, mas faz todo sentido.

Por Claudia Weinman*, para Desacato. info.
Foto: Claudia Weinman
Os espaços institucionais me causam estranheza e preocupação, porém é ali, que na sociedade muitas das decisões são tomadas, é só olharmos o que está se fazendo com a reforma da previdência, a trabalhista e tantas outras pautas que nos atingem diretamente.
Parte da vida de trabalhadores e trabalhadoras acaba sendo negociada nesses espaços por pessoas que muitas vezes nunca pisaram em chão de terra, que nunca experimentaram de forma forçada a falta de água, de energia elétrica, que nunca reivindicaram moradia.
De outro lado, são esses trabalhadores e trabalhadoras que passam por tudo isso e muito mais que movimentam toda a estrutura. Por isso o Mauro Iasi fala que “quando os trabalhadores e trabalhadoras perderem a paciência depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência, a filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá: “declaro vaga à presidência”. Outras coisas vão mudar quando essa paciência se esgotar. A gente sabe, vê que quando o povo se organiza para as lutas, como das últimas vezes, a cavalaria é acionada por esses mesmos engravatados que convocam a força nacional e mandam espalhar bombas e balas de borracha temendo a organização popular que carrega em si a força de transformação.
Mas qual a razão afinal para se falar disso agora? Faz um tempo, as terras do Contestado foram tomando a nossa identidade, pois afinal, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul têm muito a ver com essa história de genocídio Caboclo e Indígena. Quando chegamos nesse lado catarinense de Terras Contestados percebemos que essa parte “institucional” que comentei acima, justamente não se preocupa com a vida do povo que ali habita. Porque se preocupariam não é mesmo? Esses representam a continuidade do pensamento capitalista e nesse lugar que abriga escolas de assentamentos, moradias do povo assentado, acampamentos indígenas serão sempre invisibilizados por essas pessoas que negociam o caráter, a identidade.
Um fato me chamou atenção outro dia quando aconteceu a sessão solene da Assembleia Legislativa de Santa Catarina em homenagem aos 30 anos do Karatê-dô Fraiburguense e 20 Anos do Estilo Hayashi-há no Estado (a primeira sessão da assembleia inclusive, feita ali, na história da região). Uma noite que contou com várias pessoas dessas, de Raiz Contestada, sendo homenageadas e podendo falar no mesmo microfone que os engravatados tomaram para si. Quando assisti pelo vídeo na internet à sessão e ouvi as falas do campeão mundial Anderson Gomes e do professor Luiz Coelho, a emoção tomou conta, pois são pessoas que conhecem aquele chão de terra e luta por água, energia, moradia que falei no começo desse texto.
Ali, nessa região, a comunidade do bairro São Miguel, por exemplo, empobrecida de recursos financeiros é, como disse o professor Luiz Coelho, “a mina de ouro” de Fraiburgo. A meninada dali já garantiu muitas medalhas, mas foi especialmente o Karatê que garantiu a elas o direito humano à informação e ao conhecimento para transformar a sua realidade. Não foi só mérito, mas a organização popular, a luta de moradores e moradores que sem contar com apoios institucionais tiveram que pelear como a gente diz, para conseguir acesso ao que deveria ser premissa básica de vida humana, afinal, o esporte também é direito e dignidade.

Que a luta nunca foi fácil para as gentes nós sabemos, somos parte disso também, mas tem uma palavra que define:
Hipocrisia:
1. Qualidade ou característica do que é hipócrita; FALSIDADE; FINGIMENTO [Antôn.: sinceridade.
2. Ação ou resultado de dissimular, falsear a verdade, as intenções, os sentimentos. Assim são algumas (maioria) das pessoas que estão nesse espaço institucional e que nunca contribuíram de forma concreta ou quando pensam que contribuem se relacionam mais com a palavra:

Assistencialista:
1. A prática assistencialista pode angariar votos, mas não resolve a questão social.
2. Adepto ou praticante do assistencialismo.
A gente assiste e reflete, se não fosse triste seria muito feio ver e ouvir pessoas usando o microfone para falar o que esses poderes institucionais nunca fizeram, usando de uma luta popular e coletiva para se promover. Mas o povo não se cala e sempre dá o seu recado.
Foi lindo de assistir as gentes falando com tamanha propriedade sobre o dia a dia do Karatê-dô Fraiburguense.

*Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
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