Aliou Cissé. Foto: Captura de tela do Youtube |
A vitória de Senegal
sobre a Polônia por 2 a 1 nesta terça-feira (19/06) surpreendeu comentaristas
de futebol e trouxe à tona a realidade do racismo velado contra treinadores no
futebol. Se os jogadores negros já dominam até mesmo as escalações de alguns
países europeus, o panorama é bem diferente quando se trata dos técnicos.
Aliou Cissé, que foi
estrela da seleção do Senegal em 2002, é o único treinador negro entre as 32
equipes da Copa do Mundo deste ano. Além disso, ele é também o técnico com o
menor salário. Segundo dados divulgados pelo canal de TV holandês Zoomin, Cissé
recebe cerca de R$ 850 mil ao ano, salário 16 vezes menor do que o de Tite, por
exemplo.
Apesar de serem
maioria até mesmo em alguns times europeus, como a França, raramente os negros
são bem recebidos como técnicos no futebol. Até hoje, por exemplo, apenas um
negro dirigiu a seleção brasileira: Gentil Cardoso, em 1959, há quase 60 anos.
E mesmo assim, em uma única competição de baixo prestígio: O Campeonato
Sul-americano daquele ano foi disputado duas vezes, e Gentil Cardoso dirigiu a
seleção pernambucana, representando o Brasil, numa dessas vezes. “Não fui
chamado porque sou preto”, teria dito ao ser preterido para as competições seguintes.
“Eu estou com as massas, e as massas derrubam até governos”, disse Gentil Cardoso, comemorando o título do carioca de 52. Ele foi demitido no dia seguinte. Foto: Reprodução |
Raízes
senegalesas do Brasil
Celso Marcondes,
ex-diretor do Instituto Lula para a Iniciativa África, comemorou o resultado:
“Senegal lava a alma dos povos africanos e consegue a primeira vitória de uma
equipe do continente na Copa da Rússia. Única seleção com um técnico negro,
ex-jogador senegalês, passa a ter grandes chances de classificação. Por coincidência, é um dos países africanos que mais
“importou” programas sociais do governo
Lula. E um dos que mais “exportou”
negros escravizados para o Brasil, embarcados na ilha de Goree”.
O site de futebol
Trivela publicou em 2016 uma matéria sobre o racismo contra treinadores no
futebol e resgatou uma fala de Gentil Cardoso em 1954. Ao ser preterido para
dirigir a seleção brasileira na Copa da Suíça, Cardoso teria dito: “O racismo é
um fato que a hipocrisia encobre”.
“Eu estou com as
massas, e as massas derrubam até governos”, disse Gentil Cardoso, comemorando o
título do carioca de 52. Ele foi demitido no dia seguinte. Foto: Reprodução
O relatório anual de discriminação no
futebol brasileiro de 2016 (último dado disponível) apontou 25 casos naquele
ano. Das 20 equipes que disputam o Campeonato Brasileiro deste ano, apenas uma
(o Palmeiras) tem um técnico negro, Roger Machado.
Em entrevista
coletiva, o técnico senegalês comentou sobre ser o único técnico negro na copa.
“É uma realidade dolorosa”. Após a partida, o treinador que está a frente da
seleção desde 2015, mostrou-se orgulhoso pelo trabalho que vem fazendo.
“Eu garanto que toda
a África está nos apoiando. Eu recebo telefonemas de todos os lugares. Temos
orgulho de representar a África”, disse Aliou Cissé. que já foi atleta da
seleção senegalesa em 2002.
Racismo
no futebol russo quase levou a boicote
A frequência dos
atos racistas em estádios russos é tão grande que chegou a ensejar a ameaça de
um boicote de jogadores negros ao Mundial. Em março deste ano, a Fifa foi acionada para tomar medidas severas
diante de manifestações racistas partindo dos torcedores russos.
No amistoso que
antecedeu o mundial entre Rússia e França, imitações de macacos vinham da
arquibancada toda vez que os jogadores negros da França estavam com a
bola. A maior entidade do futebol alegou
que haveria tolerância zero contra discriminação racial. Até o momento nenhum
ato de racismo foi registrado no mundial.
Festa no Brasil
Após a partida, a comunidade senegalesa em São Paulo saiu às ruas para comemorar a primeira vitória africana na Copa 2018.
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