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sábado, 31 de dezembro de 2016

Ele nasceu. Apesar do Temerário.

Ainda que tentem retirar a grandeza da vida, aniquilar a força da resistência, a luz que a todos(as) pode iluminar, nesta noite a criança nasceu.
Ela veio com a simplicidade milenar e com a mesma mensagem que a todas se atribui: a Esperança, a busca do novo, a perspectiva de superação do que aí está. Esta criança, muito embora não propagada pela mídia e pelo comércio capitalista que só pensa em vender e lucrar, é o sentido maior do Natal. Essa criança é universal em cor, raça, credo, pátria, orientação sexual, partido específico. O único e inequívoco posicionamento que ela tem e provoca é Defender a Vida e a Justiça Social. Se for essa a sua marca, qualquer lei que venha a contribuir com isso é bem vinda. Qualquer lei que venha a se contrapor a isso é repugnável.
Essa criança natalina vem complementar o vazio humano de busca de parâmetros para seus atos e existência. O modelo vigente e triunfante diz que é preciso Ter acima do Ser. Já o infante recém-nascido, reclina-se em um cocho. O único lugar que lhe sobrou na sociedade. E seus companheiros de vigília, além dos pais, são os animais que ali dividem seu espaço.
Não estranhe, ao crescer, que Jesus escolha às margens da sociedade, uma roda de pessoas em situação de rua pra passar uns momentos de troca de saberes; ou aconselhar um grupo de homens e mulheres usuários(as) de fortes drogas, em qualquer esquina ou ponto de ônibus perto de casa; ou, ainda, repartir o pão de um(a) sem-teto ou sem-terra, debaixo de uma lona preta, cozendo o que melhor tem para a “noite feliz” em busca de que Justiça se faça, já que a terra não deveria ter dono. E há terra para todo(a) vivente. Em quantidade imensurável.
 Jesus, em sua humildade e simplicidade cativante, não está livre das amarras do sistema. Seja em Herodes, que o queria matar, seja em Temerário que o quer escravizar. Se seus próximos 20 anos lhe permitirem a graça da saúde, sem precisar frequentar nenhuma Unidade de Pronto Atendimento, melhor. Caso tenha alguma escola pública com professores felizes e funcionários(as) bem remunerados(as), merenda farta e estrutura física e didática impecáveis, um achado. Talvez essa criança tenha que optar entre pagar um plano de previdência privada, desde já, ou um plano funerário para permitir-lhe a dignidade de um enterro sem constrangimentos.
Como o fim do emprego está decretado, haverá apelos para se submeter a uma carga horária estonteante e com uma negociação entre patrão e empregado. Sem nenhuma garantia de amparo legal, prevalecendo-se o negociado sobre o legislado, esse guri tem o seu futuro profissional incerto.
Ainda bem que neste país do continente latino-americano há o carnaval; as festas juninas; os campeonatos de futebol; as eleições majoritárias e proporcionais, para entreter os ânimos, desviar as atenções, aliviar os traumas que a vida vai pregando.
Agora se esse piá começar a pensar diferente, resistir, questionar, lutar conjuntamente com mais um ou cinquenta, corre o risco de ser esquartejado na esquina, condenado à prisão, carimbado como ‘de esquerda’ e indistintamente separado dos bons de grana. Talvez seja esse mesmo o principal objetivo de sua vinda ao mundo: transformar, revolucionar, mudar, questionar as estruturas, desestabilizar.
Deixo aberta minha casa e meu coração. Você sempre está acolhido.


POR LUIS ALVES PEQUENO – professor, educador popular, empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR

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