Ainda que tentem retirar a grandeza da vida, aniquilar
a força da resistência, a luz que a todos(as) pode iluminar, nesta noite a
criança nasceu.
Ela veio com a
simplicidade milenar e com a mesma mensagem que a todas se atribui: a Esperança,
a busca do novo, a perspectiva de superação do que aí está. Esta criança, muito
embora não propagada pela mídia e pelo comércio capitalista que só pensa em
vender e lucrar, é o sentido maior do Natal. Essa criança é universal em cor,
raça, credo, pátria, orientação sexual, partido específico. O único e
inequívoco posicionamento que ela tem e provoca é Defender a Vida e a Justiça
Social. Se for essa a sua marca, qualquer lei que venha a contribuir com isso é
bem vinda. Qualquer lei que venha a se contrapor a isso é repugnável.
Essa criança
natalina vem complementar o vazio humano de busca de parâmetros para seus atos
e existência. O modelo vigente e triunfante diz que é preciso Ter acima do Ser.
Já o infante recém-nascido, reclina-se em um cocho. O único lugar que lhe
sobrou na sociedade. E seus companheiros de vigília, além dos pais, são os
animais que ali dividem seu espaço.
Não estranhe, ao
crescer, que Jesus escolha às margens da sociedade, uma roda de pessoas em
situação de rua pra passar uns momentos de troca de saberes; ou aconselhar um
grupo de homens e mulheres usuários(as) de fortes drogas, em qualquer esquina
ou ponto de ônibus perto de casa; ou, ainda, repartir o pão de um(a) sem-teto
ou sem-terra, debaixo de uma lona preta, cozendo o que melhor tem para a “noite
feliz” em busca de que Justiça se faça, já que a terra não deveria ter dono. E
há terra para todo(a) vivente. Em quantidade imensurável.
Jesus, em sua humildade e simplicidade
cativante, não está livre das amarras do sistema. Seja em Herodes, que o queria
matar, seja em Temerário que o quer escravizar. Se seus próximos 20 anos lhe
permitirem a graça da saúde, sem precisar frequentar nenhuma Unidade de Pronto
Atendimento, melhor. Caso tenha alguma escola pública com professores felizes e
funcionários(as) bem remunerados(as), merenda farta e estrutura física e
didática impecáveis, um achado. Talvez essa criança tenha que optar entre pagar
um plano de previdência privada, desde já, ou um plano funerário para
permitir-lhe a dignidade de um enterro sem constrangimentos.
Como o fim do
emprego está decretado, haverá apelos para se submeter a uma carga horária
estonteante e com uma negociação entre patrão e empregado. Sem nenhuma garantia
de amparo legal, prevalecendo-se o negociado sobre o legislado, esse guri tem o
seu futuro profissional incerto.
Ainda bem que
neste país do continente latino-americano há o carnaval; as festas juninas; os
campeonatos de futebol; as eleições majoritárias e proporcionais, para entreter
os ânimos, desviar as atenções, aliviar os traumas que a vida vai pregando.
Agora se esse piá
começar a pensar diferente, resistir, questionar, lutar conjuntamente com mais
um ou cinquenta, corre o risco de ser esquartejado na esquina, condenado à
prisão, carimbado como ‘de esquerda’ e indistintamente separado dos bons de
grana. Talvez seja esse mesmo o principal objetivo de sua vinda ao mundo:
transformar, revolucionar, mudar, questionar as estruturas, desestabilizar.
Deixo aberta minha
casa e meu coração. Você sempre está acolhido.
POR LUIS ALVES PEQUENO – professor,
educador popular, empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR
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