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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Primeiro acampamento das juventudes do campo e da cidade


O lugar não poderia ser mais simbólico: Descanso, interior de Santa Catarina. Uma pequena cidade no oeste, onde, em 1925, parou a mítica Coluna Prestes, dirigia por Luis Carlos Prestes, e que acabou dando nome ao lugar, então colonizado por poloneses. Pois foi ali que, de 05 a 07 de setembro de 2015, aconteceu o Primeiro Acampamento de Juventudes do Campo e da Cidade, organizado pela pastorais rural e do meio popular, reunindo mais de 300 jovens dispostos a estudar, conhecer, mobilizar e fazer coisas boas para mudar o mundo.

Vindos de diversas cidades do oeste do estado, de outros cantos de Santa Catarina, de outros estados e até de outros países, os jovens vivenciaram debates sobre a conjuntura política, mídia e lutas sociais. Também participaram de oficinas que trabalharam aspectos da cultura gaucha, música, capoeira, dança, comunicação, teatro, agro ecologia. Ainda vivenciaram espaços de festa, movidos a muita música e batucada. Pedro Munhoz, um dos mais importantes trovadores do Brasil, foi  a grande atração cultural e encantou a todos com suas histórias e payadas (trovas).


Nesses dias de encontro e movimento, a juventude do oeste de Santa Catarina mostrou como é possível, num espaço conservador como é aquela parte do estado, fazer brotar a semente da transformação. Cada um e cada uma teve como lugar de nascimento do pensamento crítico o locus das pastorais, da igreja católica. A boa e velha igreja de libertação, que ainda segue viva e atuante no interior do estado, por força de padres que continuam acreditando que a vida boa e bonita é para ser vivida aqui e que é papel da cristandade lutar por justiça e por riquezas repartidas. Uma igreja que se compromete com o pobre, com o caído, com o que vive sob a opressão.

"Antes de eu entrar para a pastoral e começar a refletir sobre as coisas do país, eu acreditava em tudo o que eu via na Globo. Pra mim aquilo tudo era verdade. Depois eu aprendi que não, que há um outro lado das coisas", confessa Henrique. "O trabalho que a gente faz é de formação, de libertação. Nossos encontros discutem a vida, a injustiça e buscam caminhos para mudar", diz Ezequiel. E assim, qualquer um daqueles jovens ali reunidos tinham sua história e sua própria experiência de transformação.


Nesses dias de final de inverno, sob uma fria cerração, a gurizada manteve viva uma chama forte de desejo de justiça. Nas místicas apresentadas, nas canções cantadas em uníssono, nos debates travados com conhecimento e curiosidade, vibrava a certeza de que por esses caminhos marginais, secundários, de terra batida, assoma uma juventude que está muito além dos likes do facebook. Ligada no mundo internético, mas não dominada por ele. Uma juventude ainda capaz de olhar para a realidade, se assombrar com ela, e arregaçar as mangas para transformar o mundo.


O primeiro acampamento, com toda a sua carga de crítica e proposta de transformação foi como um facho de luz a iluminar os caminhos de um tempo que parece esboroar a humanidade do mundo. Na força daqueles jovens, na certeza do compromisso, assoma a esperança. Ainda há muita gente boa nesse mundo fazendo coisas bonitas, lutando e construindo a nova sociedade.

Fui a Descanso e voltei renovada, nutrida pela lição da solidariedade e da cooperação. Esses são os momentos estelares. Quando estamos na vida mesma e sabemos que fazemos parte de um mesmo projeto de libertação.

Tomado do blog: Palavras Insurgentes

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