Os livros foram doados para uma
biblioteca comunitária, construída em uma das favelas de São Miguel do
Oeste\SC. Menina de 12 anos é a responsável pelo espaço
Já eram 18h30 de terça-feira, dia 12 de janeiro, quando os
livros foram levados até uma biblioteca comunitária, em uma das favelas de São
Miguel do Oeste\SC, na Vila nova II. Há tanta vida naquele lugar, onde a
pequena Sabrina Crescêncio Cardoso, de 12 anos, mantém uma biblioteca,
idealizada pelo avô da menina, Adriano Crescêncio, 71 anos e assumida por ela.
“Às vezes eu aprendo mais nos livros. A mesma coisa que aprendo aqui aprendo na
escola”, diz ela.
O lugar hoje utilizado para a biblioteca já está pequeno
demais, mediante as doações de livros que chegam a cada dia. Algumas estantes
foram colocadas em uma pequena sala, utilizada também para realização dos
populares ‘cultos’, encontros da pastoral da criança e também festas da
comunidade e aniversários. “Seria necessário um lugar maior. Agora não tem
dinheiro para fazer, mas mais tarde quero ampliar o espaço só para a biblioteca
daí”, preocupa-se o padrasto de Sabrina, Vanderlei dos Santos, 38 anos.
O Avô, Adriano Crescêncio, conta que a pequena sala foi
construída inicialmente para ser uma igreja, mas que a comunidade precisou
adaptar o espaço para suas várias necessidades. “A gente não tinha nenhum lugar
pra fazer um velório quando morria alguém, daí fizemos essa igreja, o padre
Reneu é quem vem rezar a missa uma vez por mês e hoje, virou biblioteca
também”, conta ele.
Embora a estrutura seja pequena e já não comporte mais a
quantidade de livros, Sabrina tenta organizar da melhor maneira possível todos
os exemplares, que são emprestados aos moradores, os quais, tem o compromisso
de cuidar do material e devolvê-lo para que outras pessoas possam fazer a mesma
leitura posteriormente.
A mãe de Sabrina, Selvina Crescêncio, 49 anos, preocupa-se
com a tarefa assumida pela filha. “Eu sempre disse para ela que isso não iria
dar certo aqui, e que ela teria que conseguir os livros sozinha e ela
conseguiu. As crianças vem aqui e pedem para ela ajudar a fazer o tema, contar
histórias e as vezes eu acho a tarefa ‘puxada’ demais para ela que é tão nova.
Mas se ela gosta, a gente ajuda”, respondeu.
Já era noite quando alguns jovens da Pastoral da Juventude
do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR), despediram-se dos
moradores após realizar a entrega dos livros que foram doados por populares. É
de entendimento de todos\as que a estrutura seja ampliada e melhorada, para que
esta comunidade possa continuar com o trabalho que envolve o que Paulo Freire já
afirmava, quanto à necessidade de entender a Educação Popular e sua origem, que
está figurada nestas ‘pequenas grandes’ ações de uma comunidade, que enfrenta
muitos problemas, um deles o preconceito, mas que está disposta, mesmo com
pouco incentivo, em consolidar a educação por meio desta biblioteca, para
libertar estes “pequenos”.
“Não esqueçam da
gente”. Foi à última frase dita naquele dia. Agora, novos livros preencherão o
acervo e as mentes daquelas pessoas que alimentam o sonho de liberdade e paz.
Texto: Claudia Weinman
Fotos: Claudia Weinman e Paulo Fortes
(PJMP\PJR – SC)
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