Depois de passar por
Campos Novos (11 de abril), Curitibanos (18 abril) e Caçador (25 abril) chegando
a 1790 estudantes de 37 turmas de 26 escolas estaduais e municipais, além do
público em geral que pôde acompanhar as sessões abertas e gratuitas, à noite,
sempre no Cine Lúmine, podemos garantir que a 2a Mostra de Cinema Chica Pelega
foi um sucesso. O Projeto é uma realização do Governo do Estado de Santa
Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do
Governo Federal e da Lei Aldir Blanc e conta com a produção da VMS Produções e
da Pupilo TV de Joaçaba.
Foram oferecidas
duas sessões-escola de manhã e duas de tarde para turmas de 8º, 9º do ensino
fundamental e 1º a 3º anos do ensino médio de escolas públicas dos municípios e
Gerências Regionais de Educação (GERED) por onde a Mostra passou. Desta forma,
pôde-se unir a experiência do audiovisual com as necessidades educacionais de
ensino a respeito da Guerra do Contestado, conteúdo este relacionado aos
filmes.
Sob a curadoria do
cineasta joaçabense Rudolfo Auffinger, foram exibidos os curta-metragens Irani,
do Rogério Sganzerla (1983); Olhar Contestado, de Fabianne Balvedi e Fernando
Severo (2015) e Larfiagem (2017), de Gabi Bresola. O primeiro curta-metragem é
um registro em Super 8, câmera na mão, de um desfile cívico em homenagem à
Guerra do Contestado, onde o cineasta filma de perto os cavalos e o discurso do
folclorista Vicente Telles a respeito daquele conflito que teve sua batalha
inicial naquele município. Já o filme de Fabianne Balvedi resgata as fotos do
fotógrafo Claro Gustavo Jansson, o profissional contratado pela madeireira
Lumber, para retratar a Guerra. Ela faz animação usando software livre e desta
forma muda à percepção a respeito do caboclo. E finalmente, Larfiagem é o nome
do linguajar criado em Herval d´Oeste, quarenta anos depois da guerra, por
meninos que trabalhavam na estação ferroviária e quem conta a história são seus
criadores, agora com 60, 70 anos.
Além destes, à noite,
foi exibido o longa-metragem Terra Cabocla (2015), de Márcia Paraíso e Ralf
Tambke, na sessão aberta ao público. O documentário é gravado em Fraiburgo e
Lebon Régis, e mostra a fé cabocla das joaninas e joaninos, os devotos a São
João Maria. Eles vivem o cotidiano do Contestado, lembram o massacre e as almas
que se perderam na guerra; as lutas que ainda estão de pé: pela terra, pela
dignidade, pela vida.
Durante os debates
na ultima etapa da Mostra, ao mesmo tempo que se externava uma gratidão por se
trazer à tona um assunto tão importante e latente, que é o perceber-se como
caboclos e caboclas, que é entender o seu jeito popular de falar, a história
para além da historiografia oficial, é pensar quem faz este resgate e como ele
é proposto, um grupo de artistas, que trabalha na periferia de Caçador, falam
sobre a sua luta para ganhar visibilidade. Eles relatam a facilidade de brancos
descendentes de europeus fazerem este debate em detrimento de pretos, pobres e
caboclos, que ainda têm para eles ocultos estes espaços. Mesmo com todas as
possibilidades de recursos postos à disposição para tanto. Foi uma conversa
rica em elementos e um debate para ser estendido para outros espaços de
atuação.
Já houve convites de outros municípios para que uma Terceira edição da Mostra de Cinema Chica Pelega percorra outros caminhos dentro da região onde ocorreu a Guerra do Contestado. Outros interessados podem entrar em contato com a equipe de produção por meio deste link https://chicapelega.com.br/circuito/nova-cidade/
Fotos: Luana Callai e Gabriel Felip Gomes Olivo
Matéria: Cristina de Marco